terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Relato de uma angústia

O medo

Medo é um item inevitável da nossa vida. Ele é diferente do pânico. Medo é comum e digno, porque se enfrenta com coragem. Um dos maiores medos do ser humano, sem dúvida alguma, é a perda de quem ama para a morte. Provavelmente você, leitor, já deve ter sentido esse medo algumas vezes e, quem sabe, já não chorou por causa dele?!
Quando você vê o perigo desta possibilidade na sua frente é que o medo vem, te consome e, se der tempo, te faz refletir e até mudar de atitude. O que é bom. Talvez até então você não enxergasse direito o que deveria fazer ou como ser com alguém antes que aconteça uma tragédia. Se não der tempo de consertar o erro vem outro sentimento: o arrependimento. Esse é amargo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Carteado (Parte final)

Aquela era uma carta diferente das demais. Nas costas, onde haveria o arabesco azul, havia um papel com duas vezes a largura da carta, mas estava dobrado ao meio, de forma que ficasse exatamente do tamanho do Ás. Sem demora, ansioso e com pressa William abriu o papel. Nele havia um texto escrito à mão, em letra semelhante às dicas anteriores.
Parabéns por ter chegado até aqui. Se aqui está é porque merece a chave da libertação. Vá imediatamente para baixo do viaduto do chá, onde começa a calçada grande do Anhangabaú. Ali tem um portão que dá acesso a um beco e está aberto para você”. William agradeceu o atendente da biblioteca, que deu de ombros e foi em direção às prateleiras para arquivar os dois exemplares solicitados pelo visitante. Quando Krahmer colocou os pés na rua a chuva já começava, com gotas espessas e caindo lentamente. Era um aviso de uma grande tempestade que chegava. As pessoas que andavam por ali estavam apressadas. Algumas com guarda-chuvas abertos e outras se protegendo com objetos, como pastas e bolsas, todas pelo canto da calçada. William não se preocupava em se molhar, já estava úmido de suor e com a camisa amassada, não havia razão para se preocupar com tão pouco.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Carteado (Parte 4)

O padre estava perplexo. A freira continuou como uma estátua, horrorizada com a descoberta. William Krahmer permaneceu mais um instante pensativo, imaginando quando aquilo acabaria. Ele fora ali atrás de uma chave que pudesse liquidar essa brincadeira homicida. E nada encontrou além de um rei de paus, que, para ele, não significava nada naquele momento.
— Como isso veio parar na minha bíblia? —Indagou o padre, ainda em choque.
— O senhor deixou esta sala vazia em algum instante hoje? — William questionava sem muito interesse.
— Apenas pela manhã. Eu cheguei aqui após o meio dia.
— De manhã estava aberta e assim ficou por alguns minutos quando eu conversava com uma fiel no salão da igreja — acrescentou a freira.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Carteado (Parte 3)

Sem fazer barulho, William pegou a dama de copas e observou. Desta vez havia algo escrito na borda da carta ao lado do arabesco azul, às costas da dama, que observava o rapaz com serenidade, enquanto o rosto de William transparecia a dúvida e incredulidade. “Subway”, em pequena letra manuscrita com esferográfica de ponta muito fina na cor preta.
— Este psicopata está testando minha inteligência. — murmurou.
Precisava partir dali antes que fosse visto e a polícia fosse chamada. Se tivesse que dar explicações às autoridades desperdiçaria muito tempo e poderia colocar tudo a perder. Abriu lentamente a porta do depósito e ouviu passos vindos da direção da escada. Com um frio na espinha ele apoiou as costas contra a porta e esperou. Ouviu os passos atrás de si, passando pela porta onde estava e entrando na próxima, do outro lado do corredor. Abriu novamente e andou até a escada. Encostado na parede observou escada abaixo. Ninguém subia e ele partiu rápido, com passos silenciosos.