O medo
Medo
é um item inevitável da nossa vida. Ele é diferente do pânico. Medo é comum e
digno, porque se enfrenta com coragem. Um dos maiores medos do ser humano, sem
dúvida alguma, é a perda de quem ama para a morte. Provavelmente você, leitor,
já deve ter sentido esse medo algumas vezes e, quem sabe, já não chorou por
causa dele?!
Quando
você vê o perigo desta possibilidade na sua frente é que o medo vem, te consome
e, se der tempo, te faz refletir e até mudar de atitude. O que é bom. Talvez
até então você não enxergasse direito o que deveria fazer ou como ser com
alguém antes que aconteça uma tragédia. Se não der tempo de consertar o erro
vem outro sentimento: o arrependimento. Esse é amargo.
O Alzheimer
O
Alzheimer é uma demência que atinge mais de um milhão de pessoas no Brasil. O
avanço da idade é quando se tem o maior risco da doença. É o tipo de demência mais
comum, que causa perda de memória, mudança de comportamento, confusão,
dificuldade em completar tarefas fáceis, dentre outros sintomas. Se você tem
avós ou pais já idosos saudáveis, alegre-se. Muita gente não teve a mesma sorte
e sofreu o Alzheimer do outro.
Recentemente
eu soube que a minha avó paterna, de mais de oitenta anos, tem Alzheimer. A
velha forte, de memória exemplar, está, devagar, dando lugar a uma senhora que
não sabe muito bem onde mora, onde dorme e que perdeu a memória recente. Ela
não se lembra do que aconteceu nos últimos tempos e em alguns momentos tem
dificuldade para reconhecer pessoas com quem conviveu com menos frequência.
O amor
A
minha avó morou na mesma casa que eu desde que eu nasci — exceto por um período
de pouco mais de dez anos que ela ia e vinha — e eu fui criado na sua presença.
Eu e minha irmã somos os netos com quem ela mais conviveu. A frequência com que
nos vemos me ajuda a sofrer menos. Ela me reconhece, sabe que de manhã eu estou
saindo para trabalhar e no final da tarde eu estou chegado do trabalho.
Lembrou-se sempre de quem sou filho e jura, como sempre jurou, que sou a cara
do meu avô — que eu não conheci —, de quem ela tanto fala e que tinha o meu nome.
Pelo
menos isso a gente ainda tem. Num dia do último final de semana eu sentei na
sua sala e ela relatou para mim algumas coisas do passado, daquelas que eu já
ouvi milhares de vezes, mas que desta vez não me incomodou. Na verdade, a
história repetida foi uma canção para os meus ouvidos. Ela se lembra de
detalhes impressionantes de passagens de quando nem meu pai havia nascido. Mas
não se lembra de que eu me casei no último mês de dezembro.
Durante
esta conversa ela me disse algo que me fez segurar o choro e que eu conto já
já, no final do texto.
Há
de se enfrentar este medo. O medo de perder alguém que ama tanto e que esteve
sempre ali, preenchendo aquela lacuna que num dia não tão distante ficará vaga.
O Alzheimer desenvolve-se conforme cada pessoa. Se o seu velhinho tiver sorte,
ele vai viver mais uns 8 anos após o início da doença. Talvez o Alzheimer tenha vindo para te avisar
que aquilo que você ainda não fez tem a oportunidade de fazer...e faça logo.
No
final da conversa no sofá de minha avó, ela coçava minhas costas da forma como
sempre fez desde que eu era criança e me disse “Ai fio, você é o neto que eu
mais amo, que eu mais quero bem”. Não foi a primeira e nem a décima vez em 26
anos que eu escutei isso. Deitei em seu ombro e me aliviei. Pedi a Deus para que
pelo menos este amor ela jamais esqueça.

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