quarta-feira, 14 de agosto de 2024

O corpo de Cristo

 

(baseada numa história real)

Há dois tipos de pessoas no mundo: as que vivem pelos princípios criados por si, dentro daquilo que acham ético e saudável. E as que vivem pela fé, que te inspira, te ensina e te mostra os caminhos a serem seguidos segundo sua crença.

Em um pequeno pedaço da história, como num parágrafo pequeno de uma bíblia de 950 páginas, existe a história de um mulher que por tantos anos buscou a sua libertação. Uma batalha dura e triunfante em busca do caminho que Jesus Cristo a mandou seguir.

Maria levantou-se, mais cedo do que gostaria naquela manhã. Uma luz pairava na porta do quarto, vinda do cômodo ao lado. Algo que a inquietou após uma noite conturbada de sono. O marido já havia saído para um longo dia de trabalho. Levantou-se, caminhando lentamente até a sala, de onde vinha uma luz branca forte e um cheiro inconfundível de mirra.

Ao chegar em frente à luz, a mulher entrou numa espécie de transe, uma viagem no tempo, mergulhando fortemente no mundo das ideias e da fé. Maria sempre foi religiosa. Católica, nunca deixou de ir à missa aos domingos. Mas, naquela ocasião, se sentiu chamada a libertar-se. E dentro do transe que a atingia naquele local, ela lembrou-se de todo o seu passado, que carregava dor, tristeza e pecado.

Ela estava no seu segundo casamento. Mas a cabeça não a enganava. O primeiro não aconteceu de forma espontânea e verdadeira. Aquilo a afligia. Páginas e páginas de insucesso espiritual e físico. Ela atravessou diversos episódios de sofrimento enquanto no primeiro matrimônio. Mas ele havia acontecido ali, no altar, com a bênção do Padre. De forma que o casamento atual não tinha passado pelo mesmo ritual por impedimento pelas normas da igreja. E, naquele momento, com todas as suas memórias vivas e lancinantes, ela percebeu o chamado de Deus. Mirra. Morte e ressurreição. Ali, a luz divina a convocava para uma ressurreição e conciliação.

Desse dia em diante, Maria passou a se entregar cada vez mais a Deus e à igreja. A fé fazia parte de cada passo de seu dia, de cada pensamento e oração. Eram horas diárias dedicadas a servir aos ensinamentos do criador. Enquanto isso, a busca incessante pelo perdão eterno para o começo de uma nova história em Cristo.

Muitos anos se passaram até o dia 8 de agosto de 2024. No caminho percorrido, um grande trecho da pequena história de Maria foi marcado por penitências, renúncias, resiliência e muita fé. O homem que caminhou ao seu lado foi o seu alicerce. Seu marido se tornou o pilar de todo o peso que sobre as costas dela se apoiava.

Anatalino. Determinado, paciente e amoroso. Tem o nome que lhe lembra todos os dias a honra da data de seu nascimento. E ao mesmo profeta se curvou diante do chamado que Maria recebeu.

Maria. Se há milhares de anos uma delas recebeu Gabriel, o anjo, para lhe comunicar do recebimento da maior benção para quem ela era merecedora. Hoje, tanto tempo depois, uma Maria recebeu uma convocação para alcançar a luz que tanto almejava.


E no dia final, lá estava ela, Maria, e ele, Anatalino. Numa noite de céu aberto, para que o criador pudesse ser testemunha de uma glória tão magnífica e potente. Ele era o convidado principal para o banquete de Jesus servido à Maria. A igreja estava repleta de pessoas que, de perto, acompanharam a saga da fé daquela mulher que por tanto tempo lutou, chorou e abdicou todas as missas do momento mais sagrado. Pela sua conduta, mesmo que involuntária, e pelo pecado que carregou por tantos anos.

À frente do Padre, num altar reluzente preparado por Deus, ela chorou. As lágrimas da libertação. Para, de uma vez por todas, abandonar a dor e a culpa. Uma energia poderosa e avassaladora entrou pela porta da casa de Deus. Naquele momento, ela recebia mais uma vez a poderosa bênção do Espírito Santo, que buscou por toda a sua vida incansavelmente. O corpo de Cristo.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A bênção no paraíso - Parte I


                O tempo se abriu. O azul do céu limpo, com nuvens de espessura ignorável ao longe, brilhava tanto que deixava o mar com um aspecto de quilômetros incontáveis de cristal andara. A areia branca da praia, em contraste com as pedras que as ondas encontravam, fazia com que o cenário ficasse milhões de vezes mais rico. Não para fotos, mas para admirar a olho nu e se perguntar eternamente como seria possível. As rochas, algumas lisas e outras em formato repuxado, como se a água e o vento tivessem quisto que elas fossem mais para longe, com rasuras de um vertical preciso, brilhavam com o nascer do sol por trás do monte. Deus jogou vida naquele dia. Com uma pitada de sal e ansiedade.

No dia anterior

                Era 19 de janeiro. O tempo estava enuviado pela manhã, com o sol por trás, por vezes presente. Saímos com o carro do estacionamento do motel, que foi suficiente para dormirmos quatro horas depois de um dia cheio e uma viagem cansativa, e pegamos a estrada. O caminho era longo. Extensos 300 km de Fortaleza até Jijoca, onde o maior trecho do trajeto era em pista de mão dupla. Quando o visor da trip estava apontando mais da metade do caminho, uma tempestade resolveu lavar tudo que tinha sobre a Terra. Buracos. Reduzimos a velocidade.

                Era a véspera do grande dia e a chuva não cessava. Conforme chegávamos perto do destino, o céu ficava mais cinza. Nós tínhamos todas as ferramentas para cair em desânimo e pensar que deu tudo errado. Mas a fé que anima nossa alma era bem mais forte que aquela água que não caía com tanta violência naquele local há muito tempo. De Jijoca, mais quarenta minutos nas dunas alagadas do parque nacional Chico Mendes até a vila de Jericoacoara. Valetas cheias de água que mais pareciam novas lagoas dando um alô ao paraíso. O tempo e água eram turvos. Um marrom claro misturado ao cinza. Lameado. Areia úmida.

                Nos instalamos. Parou de chover. Saímos para almoçar. Chuva novamente. Nos concentramos. Entramos numa meditação de olhos abertos e mente funcionando tão profunda que a energia dos bons ares se dissipou por toda a região. À noite, já com estrelas dando indícios de glória, à porta da capela de Nossa Senhora de Fátima, eu escrevi meus votos, enquanto ela provava a maquiagem no quarto da pousada. Entrei, me ajoelhei. Próximo ao altar, uma dúzia de jovens ouvia do catequista orientações sobre os costumes católicos. Fechei meus olhos e rezei.

“Senhor, ilumine a minha segunda-feira com um sol lindo e um dia maravilhoso. Leva para longe sua tempestade, fazendo-a cair numa outra oportunidade. E, principalmente, se coloque em nossos corações para o dia de amanhã. Coloco em suas mãos as nossas vidas. Amém”.

O dia

                Era pouco mais de 5h quando o celular despertou no quarto da pousada. As janelas e cortinas fechadas impossibilitava de ver como estava o dia lá fora. Nos preparamos e saímos. Como num sopro divino, o sol nascia por trás do monte, livre de qualquer obstáculo. Consegui ver de longe o sorriso dele para mim. Saímos para um ensaio fotográfico em um dos lugares mais incríveis que já fui. Foram mais de 2km caminhando pelo monte, chamado pelos locais de serrote, até a tão buscada pedra furada. Mas naquele dia ela estava diferente. Bonita, brilhante, exposta e nossa.

                Naquele momento, como uma tela pintada com detalhes minuciosos, eu estava dentro de um sonho. Enfincado dentro de um pedido que fiz à Deus na véspera. Ele me deu de presente o pedido que fiz com tanto afinco e fé. Dali em diante qualquer imagem que saísse daquele ensaio seria uma obra de arte de ótica, sentimento e felicidade.



segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

O que é a vida?


A vida ensina em todas as situações vividas, sejam elas boas ou ruins. Mas, aqui, hoje, eu quero falar das ruins. Porque são essas que vão fazer você, provavelmente, cometer menos erros lá na frente e desfrutar de vida melhor. O saudoso Abujamra – agora substituído em seu programa, Provocações, por Marcelo Tas – perguntava a seus convidados e agora é copiado: o que é a vida?

Como eu jamais serei entrevistado pelo mestre Abujamra, tampouco devo ser pelo seu sucessor, usarei o meu espaço, que é este, para dizer o que é a vida:

- A vida é uma sucessão de equívocos, onde a falta de experiência ou a insistência no que não deu certo são as ferramentas utilizadas para o aborrecimento;

O que é a vida?

- A vida é um conjunto de ações temerárias, recheadas com pitacos de ações assertivas, que mesmo sendo te cobram um preço na frente;

O que é a vida?

- A vida é a única coisa que nós temos, sem opção de escolha. Porque até a morte é uma parte da vida, inexistindo sem a primeira. A vida é uma linha do tempo onde nós construímos o que queremos ser, tendo que desvencilhar-nos de tentáculos que nos levam ao fracasso do ser quem queremos.

O que é a vida?

- A vida é um jogo de reflexão, onde construímos e desconstruímos teorias que nós mesmo plantamos e outras que plantaram em nós. E essa é a melhor parte dela.

Eu me emocionei escrevendo isso. Não emoção de chorar, mas de esfregar as mãos, sorrir sozinho, franzir o cenho e até suar e tremer um pouco. Descrever a vida não é fácil. Poucos conseguiram fazer mais de duas vezes no “Provocações”. O que você acha que a vida?

Dito várias vezes, sob meu olhar, o que é a vida, eu chego num ponto desse texto que pode te desanimar. Contudo, é uma conclusão que você provavelmente teria se tivesse feito essa reflexão antes. A vida é um errar contínuo. Você conhece alguém que, com qualquer idade, de tanto errar aprendeu tudo? Alguém que não comete mais nenhum erro? Você conhece alguém perfeito?

Esqueça suas paixões. Na paixão o outro é perfeito, porque guarda nele o amor que você busca – até que passe a ser outra pessoa esta que guarda, caso necessite de ser. Eu, você, ele, ela, eles todos cometerão equívocos das mais diversas espécies, cada um dentro do seu quadrado. Entenda: com o perdão da palavra, você faz cagada até quando acha que não fez, sem perceber. Mas tem um lado bom, se você tem habilidade nisso (eu considero que tenho relativa habilidade, o suficiente para que não seja acusado): as besteiras que você comete não repetirá. Portanto, ninguém tem o direito de dizer que um problema que hoje tens, foi causa de outro fracasso no passado. A menos que você mesmo chegue a esta conclusão.

A vida é um ciclo (vicioso) que algumas vezes nos leva ao mesmo lugar, ou à mesma situação. E o que você faz com ela é diretamente uma resposta ao que fez na rodada anterior. Exemplo: se você, desatento, confiou que um farol amarelo não fecharia antes que passasse, errou sua conclusão e levou uma multa, provavelmente no próximo amarelo você freia. Se você tomou uma decisão que tirou de você uma pessoa amada, e nisso a culpa foi tua, no seu próximo amor você apeifeiçoará o teu problema. E quem sabe até torna-lo virtude. É possível.

Portanto, repito: não é direito de ninguém acusa-lo de repetição de equívoco, pois o terceiro não viveu a tua vida, não fez as tuas reflexões, tampouco sentiu o que você sentiu naquele momento. Por isso que os velhos são sábios e, segundo aquele dito africano, “quando um velho morre uma biblioteca se incendeia”. Uma biblioteca de conhecimento sobre o que é a vida e como vive-la. Mas quem é velho suficiente para se prevenir de todos os equívocos? Basta, para nós, olharmos dentro do nosso próprio ser, e ter, acima de tudo, humildade para reconhecer a presença daquilo que muitas vezes nos magoa ou magoa um amado.

E no decorrer dos nossos dias aqui nesta Terra, nós vamos noite pós noite deitando na cama, refletindo, mudando, metamorfoseando as respostas para a mesma pergunta: afinal, o que é a vida?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Onde a vida não é mentira


Peguei a estrada mais uma vez. Sim, depois de alguns milhares de quilômetros voando, dessa vez fui por terra, por asfalto, fui sentindo a textura do chão duro do Brasil...das Minas Gerais. E fui por consequência de um amor que encontrei no ano passado. Ela me fez depois de 13 anos voltar ao norte das Minas Gerais, terra onde melhor se aprecia a culinária no país e um dos redutos de maior recepção por parte de seus habitantes, com um sotaque pra lá de gostoso.

Pouso Alegre, Varginha, Lavras, Belo Horizonte...foi tudo ficando para trás. Depois de várias horas de viagem, o sol vai caindo, passa Curvelo, Corinto, Montes Claros. Neste ponto eu senti o cheiro do destino, mas ainda tinha chão. Salinas, o cheiro da cana, da cachaça que é tesouro em qualquer lugar do mundo. Em Taiobeiras que eu me senti de novo “em casa”. Sim, porque vovó morou mais de uma década em Januária, pedaço que visitei por algumas vezes e já me sentia em terra minha. Era meu reduto de férias, porque não?! Taiobeiras já me remeteu à infância e adolescência. Mais um pedacim de terra e eu cheguei onde queria. São João do Paraíso, intitulada por ela própria de Capital Nacional do Doce de Marmelo. E com um doce desse, meu amigo, quem sou eu pra protestar esse título?!

Aqui eu quero falar da feira livre. Sim, eu estou escrevendo hoje aqui para falar sobre a feira livre de São João, aquela que você talvez vai uma vez por semana na sua cidade pra comprar uma verdura mais bonita e barata. Mas a feira de São João não é qualquer feira. A feira é um acontecimento, uma entidade, um local de encontros. Se você prefere o bar é uma escolha sua, mas o povo lá se encontra é na feira mesmo. Eu, de fora, fui comprar. Mas quantas não foram as pessoas que, observando, notei que só vai à feira para “ver gente”. Sim, param e conversam. Atravessam a barraca para ir até o lado onde está o feirante para experimentar o que ele vende, bater papo, abraçar e dizer que vai “visitar a roça”.

É sensacional. Eu guardei isso pra falar aqui no blog. Eu não disse a ninguém o que achei da feira e São João. Eu apenas lamentei ter ido embora na manhã do dia em que ela acontece. A sexta-feira. Desde segunda a expectativa é que chegue a sexta para ir à feira. Talvez os moradores da cidade não entendam o evento que é a feira, porque já é sua rotina. Mas quem chega percebe. Tudo que tem na feira veio direto do produtor. O produtor é o feirante. Ele tem o pedaço de terra na região da roça, no arredor da cidade. Ele planta e vende. Fabrica o queijo e vende. Faz o doce e vende...tudo na feira. Na época que eu fui era a hora do pequi, da manga, da jaca...e do marmelo. Quando chovia eu sentia o cheiro da jaca. Em qualquer momento sentia cheiro do pequi. Uma pintura amarela em cada estrutura de madeira da feira. Nessa feira ninguém grita, ninguém chama freguês, ninguém dá cantada na “moça bonita, que não paga, mas também não leva”. Nessa feira você para no meio do corredor para cumprimentar alguém que passa, que possivelmente é parente de alguém que você conhece – ou seu próprio parente – e ninguém reclama que está bloqueando a passagem.



É uma satisfação ir à feira. Igualmente à roça. O cheiro de saúde, de plantação. O milharal, o cafezal. Toda árvore é frutífera. Se o celular não tem sinal não tem problema, as pessoas sentam e conversam. Pega a fruta no pé e come. Muitas vezes não precisa nem de faca, viu homem da cidade?! Rasga com o dente, se lambuza, se diverte e depois se lava. Não se passa fome. Come e vende na feira. A estrada é “de chão”, terra vermelha, você segue e vai deixando poeira para trás. A sensação é de liberdade. E você pensa quanto espaço existe no Brasil para tanta gente estar ‘muquiada’ em metrópoles estressantes, poluídas e cansativas.

Tudo foi proveitoso. Tudo foi positivo. O descanso, a reflexão, o que guardei pra mim, o que expressei. Cada cerveja tomada, cada carne com “boi berrando” saboreada, cada amizade começada. O clareamento e descanso da mente e da alma. Tudo vai ficar na memória e na vontade de voltar. Mas sempre tem aquela coisa de cada lugar que te chama atenção, que vira o símbolo do local na sua cabeça. Ahhh, a feira. A feira de São João do Paraíso. A feira! Lá a vida não é mentira.

“Sou, sou desse jeito e não mudo
Na roça ‘nóis’ tem de tudo
E a vida não é mentira
Sou, sou livre feito um regato
Eu sou um bicho do mato
Me orgulho de ser caipira”
(Chitãozinho e Xororó)


terça-feira, 6 de novembro de 2018

Ganhei na Mega-Sena


Eu ganhei na Mega-Sena. E agora?

Meu Deus, tem tanta coisa pra fazer que eu nem sei por onde começar. Nossa, é muito dinheiro. Deixa eu pensar aqui. Bom, vamos lá.

Eu vou investir 80% desse dinheiro em ações da bolsa e no tesouro direto. Eu quero fazer esse dinheiro render bastante num médio prazo. Com outros 10% eu decidi que vou abrir uma instituição que trata das crianças com câncer. Não terá fins lucrativos, vou trazer para a clínica apenas crianças que não têm condições de pagar por tratamento. A casa será sustentada através de ações beneficentes...mas se precisar eu pego metade dos 80% investidos e coloco lá. Não tem problema.

Sobraram 10% do dinheiro. E com este eu não vou mudar minha vida ainda. Eu vou mudar a vida dos outros. Então vamos fazer aqui uma lista de quem eu posso ajudar agora, de imediato, com essa grana. Mas devagar e silenciosamente, quem sabe até na base do anonimato. Passa tanta coisa na minha cabeça, eu simplesmente estou confuso com tudo isso. Jamais imaginei ter tanto dinheiro. Se eu quiser sacar não dá.

Para meus pais eu vou dar um canto onde eles quiserem. Eu sei que meu pai quer um sítio e se ele quiser ir para um e viver do lugar, eu dou um jeito de pegar uma fatia do juros do dinheiro investido para montar um negócio para ele lá. À minha avó darei tudo que ela precisar para ter vida agradável, até que Deus lhe tire.



Mas aquela mulher precisa muito, aquela que mora longe. Embora eu não fale mais com ela pelas circunstâncias, ela é uma guerreira. É cabeça dura, mas não é culpa dela. Cria as filhas com o trabalho árduo e sem preguiça. Ela mora num local que não merece pelo tanto que trabalha. Para ela eu vou dar um canto digno para morar. Aquela outra é como se fosse minha irmã. Ela chora muito, tem o emocional abalado e trabalha mais do que descansa. Trabalha para sobreviver, é mais velha do que eu e ainda não conquistou o que quer na vida. Ela vive de lampejos de felicidade, mesclados com momentos de tristeza e melancolia. Eu ainda não sei como ajuda-la, mas eu não vou medir esforços para fazer. E vou conseguir.

Tem aquela outra. Essa tem muitos filhos, quase todos já criados. Não passa necessidade, mas mora numa cidade pequena e não consegue ter uma renda que lhe dê vida satisfatoriamente confortável. Eu não a conheço pessoalmente, acredita?! Mas eu a amo só por ela ser amada por quem eu amo. E eu conheço pedaço suficiente de sua história de vida para colocar na sua vida quantia necessária para ela fazer o que quiser no seu grande terreno e quem sabe lhe dar um pedaço de terra na roça. É só ela querer!

Existem outras pessoas a quem eu quero ajudar, em quantias menores, mas que as faça sorrir. Esses 10%, não se enganem, é bastante dinheiro, dá pra fazer tudo isso e muito mais. O que sobrar, eu vou comprar uma propriedade e abrigar uma família que eu não conheço. Alguma que vive na rua e que tenha filhos pequenos. Eu vou dar a eles um teto para se abrigar, mantimentos para se manter durante um tempo e uma qualificação para que possam conseguir trabalho e se manter. E vou ensinar a eles que eles estão recebendo aquilo para que no futuro possa fazer o mesmo por outras pessoas.

Eu estava pensando aqui e acho que dá sim. Mas se não der, eu tiro um pouco dos 80% investidos. Transformo em 75% de investimento e turbino o dinheiro que tirei para melhorar a vida daqueles que eu amo. A cabeça fica uma turbina quando se ganha tanto dinheiro na loter...
Ouço uma buzina estridente. Até pulei do banco do motorista. Alguém atrás de mim buzinou. O farol lá na frente abriu e o trânsito andou. O carro à minha frente já estava uns 100 metros distante e eu acordei dos meus devaneios.

No rádio, Carol Goes finalizava a notícia: “...22 milhões é muito dinheiro, hein Kadu?! Com esse dinheiro eu daria risada por um bom tempo”.

Balancei a cabeça para acordar. Vi uns trocados no painel do carro. Moedas que uso para pedágio, zona azul ou mesmo para doar no farol. Mas alguém vai ficar sem trocado hoje. Acho que com essas moedas dá pra fazer um jogo. Vai que...

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Vida


Eu gosto da intensidade. Seja lá o que eu faço, gosto de fazer com fervor.

Eu gosto de me entregar. Para tudo. Mas sobretudo para as pessoas. Eu posso listar pessoas para quem eu daria minha vida. E não me arrependo por isso.

Eu fui casado, mas me separei. Vivi com a mesma pessoa por sete anos. Fiz quase tudo que gostaria de fazer. O que tive tempo fiz...e fiz com prazer. Eu não me arrependo de uma vírgula do que fiz na vida. Com tudo eu aprendi. Com ela não foi diferente. Eu aprendi e ela também. Juntos passamos dias maravilhosos, graças a Deus. Eu faria absolutamente tudo de novo. Porque houve entrega. Se no meio do caminho teve uma rocha, paciência. Mas antes das rochas nos livramos de pequenas pedras com facilidade e seguimos sorrindo. Hoje, ela segue seu caminho e eu o meu. E a única coisa que consigo desejar a ela é a maior felicidade que ela possa ter na vida. E que nunca lhe falta saúde e amor, que é o combustível para uma vida boa.

Então, eu segui. Eu não vou desistir do amor. E mesmo que tivesse refletido sobre isso, eu jamais imaginaria que as coisas na minha vida a partir deste momento voariam tão mais rápido como havia sido antes. Tampouco imaginei que meu coração tivesse tanto amor transbordando e que logo derramaria. Sou da fé Cristã. E Deus é muito generoso comigo, ele cicatriza rápido minhas feridas e costuma, vez ou outra, me premiar – embora em outras vezes me senti prejudicado, mas eu o perdoo.  E no meio deste caminho eu encontrei alguém. No mais puro acaso, como no meio de um cafezal em plena colheita, eu encontrei alguém em quem vi, posteriormente, mas não tão longínquo, a alma que me completaria a lacuna que lá estava.

E apenas neste momento, com 28 anos recém completos, que eu me descobri sentimentalmente. Eu descobri que o que eu mais tenho dentro de mim é amor. Eu tenho uma tonelada de amor pra dar. E minha missão aqui é essa. Despejar momentos felizes na vida de quem eu amo. Assim como fiz antes, resolvi me entregar ao cupido mais uma vez e farei de novo. Se vai ser pra sempre? Não sei. Espero que seja. Mas se não for terá de ser, como sempre fiz, intenso enquanto acontecer. Se for pra amar, que seja intenso...até o último nível. Eu odeio coisas mal feitas. Se for fazer, faça direito. Se for amar, ame muito. Nessa empreitada eu tive a sorte (será que é sorte?) de ser amado também. Não de forma igual, mostrando os mesmos atributos ou tomando as mesmas ações. Aprendi – com ela, inclusive – que as pessoas são diferentes. Cada um ama da sua forma. O mais importante é você sentir o amor que o  outro lhe dá e, principalmente, SER FELIZ. Fazer o que te faz feliz.

Agora, eu cheguei no ponto que gostaria de abordar, como protagonista deste texto. Você faz o que te faz feliz ou você deixa de fazer alguma coisa pensando no que o outro vai pensar? Depois de alguns dias eu tomei uma decisão que tem gente que leva anos pra tomar. E tem gente que nunca tomou, ou porque não achou que devia ou porque colocou à frente de suas vontades a opinião popular. Eu não vou mais deixar de fazer o que eu quero porque o outro acha que não devo ou que não é a hora ainda. Eu não vou mais fazer planos a longo prazo. Eu decidi que da minha vida cuido eu. Se foi tarde demais não importa. Eu resolvi viver o agora, porque se no agora eu for feliz, a consequência disso não pode ser tristeza. É IMPOSSÍVEL ser triste como consequência de bons momentos. Mesmo que haja feridas, elas aconteceram porque você foi. E elas cicatrizam. Já cicatrizou quantas vezes?

Eu choro. Homem chora sim. Até Jesus chorou, né Brown? E o choro, muitas vezes, é aliviador. Nossa, como chorar é bom. Parece um remédio. Então, quando machuca, eu não seguro, eu choro. As vezes eu uso amigos e desabafo. Mas, na maioria das vezes, eu apenas choro sozinho.  Então, eu não tenho mais medo de cair e me ralar. Se isso acontecer, eu choro e estou curado. A vida é uma passagem, nada justifica o desespero. Já já nós não estaremos mais aqui. E aí a dor no coração e a conta alta impagável não existirão mais. Por isso eu resolvi viver. Só isso...viver e fazer o que me deixa feliz, o que me tira sorrisos e, não menos importante, o que tira sorrisos de quem eu quero bem – e é muita gente. Eu recomendo.

Nosso tempo é precioso, não dá para perder com coisas fúteis e nem com opiniões que não vão te tirar do lugar. Cada segundo é importante. Notou como o tempo passou rápido? Esses dias você brincava na rua, só se preocupava com a escola. Agora, olha o teu tamanho. E o que você fez? Se você morresse hoje, estaria satisfeito? Eu resolvi que sim, vou fazer para mim o que me deixaria satisfeito se amanhã eu fizesse minha passagem. E pronto!

Depois de toda essa reflexão eu decidi. Compartilhei a minha decisão com uma das pessoas que mais amo nessa vida, cuja opinião sobre isso não poderia ser diferente da que ouvi. Eu compartilhei com ela porque ela ia falar o que eu queria ouvir. “Ah, mas ouvir o que quer é fácil”. Sim, porque ouvir SOBRE MIM o que eu não quero fazer não me interessa mais. Então, ela disse “você é doido menino, mas se é isso que quer, se é o que te faz feliz, faça. Se você está feliz, eu estou também”. Você poderia ouvir algo melhor que isso??? É além do limite do “eu te amo”, meu amigo. Eu só queria ter certeza de que eu ainda tenho quem me apoie. É claro que isso pode não ser bom para ela, mas é para mim. Assim como o que ela faz da vida dela pode não ser bom para mim, mas é para ela. E tá tudo certo. Cada um faz pra si o que lhe faz feliz.

Mas, voltando ao meu coração e ao companheirismo que decidi ter a partir de agora até não sei quando. Sabe o que me faz feliz? A presença dela. Sabe o que me faz feliz? O sorriso dela. O que me faz feliz de verdade é a palavra dela, é o “te amo” dela, são os desejos dela, é o pulo dela nos meus braços quando eu chego, é a lamentação quando eu vou embora. O que me faz feliz é o bom dia dela que já está lá quando eu acordo. É a ligação dela quando percebe que eu estou perdendo a hora. A minha felicidade é ter ela sentada do meu lado. É o “sim” dela toda vez que proponho algo, independente do que for. É o companheirismo, a amizade, a cumplicidade, o desejo e a vontade de tê-la todos os dias em vez de só aos finais de semana. O que me faz feliz é ela ser.

Talvez o que te faça feliz é fazer o que quer, chegar em casa a hora que quer, não ter louça pra lavar, roupa pra lavar e passar. Talvez, para você, ser feliz é ir pra balada, ou simplesmente não ir se não quiser. É sair hoje com uma pessoa e poder sair com outra na semana que vem. Tá tudo certo, continue fazendo isso. Não existe receita de bolo para a felicidade. Pode ser que pra você ser feliz é viajar toda semana ou ficar em casa no ócio durante três dias de um feriado prolongado. Pra você, ser feliz pode ser correr no parque, ouvir uma música, encostar numa árvore e ler um livro. Eu gosto de várias coisas que exemplifiquei neste parágrafo. Mas, para mim, ser feliz de modo completo, é ter quem eu amo do lado. E neste momento é ela quem vai receber isso de mim. Para mim, agora, ser feliz é tê-la comigo. Não tê-la para mim, como posse, mas tê-la comigo como companhia para ver um filme, dormir, sair e chegar. Ser feliz, para mim, é ter louça de dois pra lavar, é ter roupa de dois pra passar, é limpar a casa que dois sujaram. É chegar em casa e ver o sorriso porque eu cheguei, é receber com sorriso a chegada dela. Ser feliz para mim é saber que ela saiu de casa em cima da moto e, sob minhas orações, chegou em segurança no trabalho. Ser feliz pra mim é mandar o áudio que ela pede durante o dia pra anima-la, é receber a foto dela com as crianças da escola. Ser feliz pra mim é saber que ela quer ter um dia livre pra fazer meu bolo fit ou meu cookie de aveia e cacau zero açúcar. Ser feliz é saber que ela cuida de mim como eu cuido dela.

Dito isto, sem mais delongas, eu decidi então chama-la para jantar um dia após o do número que ela gosta, porque no dia do número eu fiquei impossibilitado. E, sem pensar no que os outros vão dizer, eu pedi a mão dela. Não porque quero fazer um festão. Mas porque quero viver com ela, em função dela e ela em função de mim, a partir de breve. Uma semana antes eu encomendei o anel...do jeito que ela queria, do tamanho do seu dedo anelar da mão canhota. E abri a caixinha quando ficamos só nós dois, sem presença de garçom. Ela não gosta de surpresa em público, já havia me dito que se eu fizesse em público ela ficaria brava e sairia correndo. Mas quem disse que eu ligo para público? Agora não sou mais eu e nem é mais ela. Somos nós. E dane-se o que pensam os outros. O importante para mim é que as pessoas que eu amo vão me apoiar, disso eu não tenho dúvidas. Porque a partir de então nós vamos brincar de vida e cuidaremos só da nossa.



terça-feira, 19 de junho de 2018

O mar

A natureza do mar é tão maravilhosa como qualquer descoberta humana na ciência. A água vem de longe, as ondas quebram na praia, uma a uma, e depois voltam, até beijarem novas ondas que vem e vão, perdendo-se no oceano infinito ao olho humano. É um ciclo que não se acaba.