Peguei a estrada mais uma vez. Sim, depois de alguns milhares
de quilômetros voando, dessa vez fui por terra, por asfalto, fui sentindo a
textura do chão duro do Brasil...das Minas Gerais. E fui por consequência de um
amor que encontrei no ano passado. Ela me fez depois de 13 anos voltar ao norte
das Minas Gerais, terra onde melhor se aprecia a culinária no país e um dos
redutos de maior recepção por parte de seus habitantes, com um sotaque pra lá
de gostoso.
Pouso Alegre, Varginha, Lavras, Belo Horizonte...foi tudo
ficando para trás. Depois de várias horas de viagem, o sol vai caindo, passa
Curvelo, Corinto, Montes Claros. Neste ponto eu senti o cheiro do destino, mas
ainda tinha chão. Salinas, o cheiro da cana, da cachaça que é tesouro em
qualquer lugar do mundo. Em Taiobeiras que eu me senti de novo “em casa”. Sim,
porque vovó morou mais de uma década em Januária, pedaço que visitei por
algumas vezes e já me sentia em terra minha. Era meu reduto de férias, porque não?!
Taiobeiras já me remeteu à infância e adolescência. Mais um pedacim de terra e
eu cheguei onde queria. São João do Paraíso, intitulada por ela própria de Capital Nacional do Doce de Marmelo. E
com um doce desse, meu amigo, quem sou eu pra protestar esse título?!
Aqui eu quero falar da feira livre. Sim, eu estou escrevendo
hoje aqui para falar sobre a feira livre de São João, aquela que você talvez
vai uma vez por semana na sua cidade pra comprar uma verdura mais bonita e
barata. Mas a feira de São João não é qualquer feira. A feira é um
acontecimento, uma entidade, um local de encontros. Se você prefere o bar é uma
escolha sua, mas o povo lá se encontra é na feira mesmo. Eu, de fora, fui
comprar. Mas quantas não foram as pessoas que, observando, notei que só vai à
feira para “ver gente”. Sim, param e conversam. Atravessam a barraca para ir
até o lado onde está o feirante para experimentar o que ele vende, bater papo,
abraçar e dizer que vai “visitar a roça”.
É sensacional. Eu guardei isso pra falar aqui no blog. Eu não
disse a ninguém o que achei da feira e São João. Eu apenas lamentei ter ido
embora na manhã do dia em que ela acontece. A sexta-feira. Desde segunda a
expectativa é que chegue a sexta para ir à feira. Talvez os moradores da cidade
não entendam o evento que é a feira, porque já é sua rotina. Mas quem chega
percebe. Tudo que tem na feira veio direto do produtor. O produtor é o
feirante. Ele tem o pedaço de terra na região da roça, no arredor da cidade.
Ele planta e vende. Fabrica o queijo e vende. Faz o doce e vende...tudo na
feira. Na época que eu fui era a hora do pequi, da manga, da jaca...e do
marmelo. Quando chovia eu sentia o cheiro da jaca. Em qualquer momento sentia
cheiro do pequi. Uma pintura amarela em cada estrutura de madeira da feira.
Nessa feira ninguém grita, ninguém chama freguês, ninguém dá cantada na “moça
bonita, que não paga, mas também não leva”. Nessa feira você para no meio do
corredor para cumprimentar alguém que passa, que possivelmente é parente de
alguém que você conhece – ou seu próprio parente – e ninguém reclama que está
bloqueando a passagem.
É uma satisfação ir à feira. Igualmente à roça. O cheiro de saúde,
de plantação. O milharal, o cafezal. Toda árvore é frutífera. Se o celular não
tem sinal não tem problema, as pessoas sentam e conversam. Pega a fruta no pé e
come. Muitas vezes não precisa nem de faca, viu homem da cidade?! Rasga com o
dente, se lambuza, se diverte e depois se lava. Não se passa fome. Come e vende
na feira. A estrada é “de chão”, terra vermelha, você segue e vai deixando
poeira para trás. A sensação é de liberdade. E você pensa quanto espaço existe
no Brasil para tanta gente estar ‘muquiada’ em metrópoles estressantes,
poluídas e cansativas.
Tudo foi proveitoso. Tudo foi positivo. O descanso, a
reflexão, o que guardei pra mim, o que expressei. Cada cerveja tomada, cada
carne com “boi berrando” saboreada, cada amizade começada. O clareamento e
descanso da mente e da alma. Tudo vai ficar na memória e na vontade de voltar.
Mas sempre tem aquela coisa de cada lugar que te chama atenção, que vira o
símbolo do local na sua cabeça. Ahhh, a feira. A feira de São João do Paraíso.
A feira! Lá a vida não é mentira.
“Sou, sou desse jeito e não mudo
Na roça ‘nóis’ tem de tudo
E a vida não é mentira
Sou, sou livre feito um regato
Eu sou um bicho do mato
Me orgulho de ser caipira”
(Chitãozinho e Xororó)

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