segunda-feira, 26 de março de 2018

Imunização racional


Dentre tantas obras fantásticas que o fez se tornar um dos maiores monstros da música nacional, Sebastião Rodrigues Maia escreveu uma canção chamada “Bom senso”. É uma das músicas tupiniquins que eu mais aprecio, talvez por me enquadrar nela. Mas quantas pessoas não se enquadram?

Se você nunca ouviu, abra o youtube agora e faça essa benfeitoria para os seus ouvidos e cérebro. “Já senti saudade, já fiz muita coisa errada, já pedi ajuda, já dormi na rua”. Você certamente já fez uma ou todas essas coisas. “Mas lendo atingi bom senso, a imunização racional”. Não há nada melhor para o desenvolvimento do indivíduo do que a leitura. Ela é um complemento da experiência. Lendo atinge-se o bom senso. A leitura ensina a viver, ensina a desvendar, a entender, a interpretar, a pensar.

Tim Maia colocava em suas letras a sua própria vida. Talvez por isso me cativa tanto e não sai dos meus fones de ouvido por muito tempo. E em “bom senso” ele descreve tantos de nós e ele mesmo. Nós somos como Tião. É vivendo que se aprende, é lendo que se atinge o ápice da capacidade cognitiva e racional.

domingo, 25 de março de 2018

Inspirações e costumes: minhas loucuras


A lente de contato irritou. Eu extrapolo, fico com ela durante o dia todo, até o momento de deitar para dormir. Mas foi no momento em que eu tive vontade de sentar aqui e escrever este texto que eu a retirei dos olhos e peguei meus óculos.

Eu ligo meu computador quando recebo uma inspiração, preparo algo para beber e me ponho a dissertar. Hoje eu resolvi escrever sobre como faço isso aqui existir. Eu tenho devaneios de assuntos diversos. Viajo em minhas ideias, divago por oposições ao meu próprio pensamento e chego a uma conclusão que nem sempre é a mesma do começo da reflexão. E eu gosto de quando é assim.

Eu tomei um gole do cappuccino que preparei para sentar aqui agora e quase derrubei. Mas hoje eu não ficaria enfurecido. É domingo a noite, momento de ócio, solidão e melancolia. Mas eu estou apenas com o ócio e mais neutro em emoções do que nunca. Diria que neste momento eu sou uma pessoa fria, quase gelada. Esse texto é apenas a necessidade de colocar alguma coisa na página de word em branco que foi transferida para essa página com fundo marrom na internet. Eu gosto desse ambiente marrom, você gosta também?

Eu tiro inspiração do cérebro vazio, da bebida que eu tomo, da música que eu ouço, dos livros que leio e até de algo que uma pessoa disse pra mim em alguma rede social. Eu adoro quando despertam em mim uma curiosidade. Eu só não gosto quando minha cachorra late ou não deixa eu ver TV porque fica entrando na minha frente. Está passando um show na TV neste momento e eu coloquei no mudo. Está com uma cara de show muito ruim. Eu não conheço a moça que canta, mas por mais que seja ruim ela expôs o seu “eu” nas canções e isso é bom. Eu faço isso aqui, mesmo sem saber se quem lê gosta.

Eu não gosto de quando pessoas com conversas agradáveis ficam dias sem falar comigo. Mas eu não digo isso a elas, tenho medo de ser inconveniente. Por outro lado eu fico feliz quando alguém lembra de algo bom que eu fiz ou estou fazendo. Eu não sou daqueles que gostam de ficar expondo tudo que faz, mas recentemente eu descobri o tal do “status” do whatsapp e achei engraçado. Mas não vou ficar muito tempo, como fiz com o snapchat. Tem coisa que é muito banal e eu não tenho paciência de permanecer.

Eu não fumo. E não sei como. Eu tinha todos os motivos para fumar, mas não gosto. Mas se você for fumar alguma coisa perto de mim, por favor, que seja maconha. Eu odeio cigarros. Eu nunca coloquei nada de fumo na boca. Meus vícios são outros. Eu sou viciado em café, eu adoro tomar cerveja, tomo a qualquer momento em casa, sozinho. Dá vontade, eu abro uma lata e tomo. Uma só. Eu sou viciado em erva mate enquanto estou tomando meu tereré. Eu tenho a impressão de que eu não vou parar de beber nunca. E quando eu tenho de parar fico triste. Eu sou viciado em ler, embora eu não esteja lendo nada a longo prazo agora e há algum tempo eu não estudo nada.

Eu sou viciado em escrever. Por isso eu tenho essa página. Aqui eu gosto de expor coisas para que as pessoas reflitam e também escrevo alguns contos, como talvez você já tenha lido. Eu já perdi várias ideias por não ter anotado achando que não esqueceria. Comprei um bloco de notas físico porque não me dou tão bem com notas do celular. Fiquei andando com ele por uns dias, anotei umas ideias, coloquei-as em prática e depois abandonei o bloco. Agora eu tenho ideias, mudo de música e as esqueço. Eu tenho pronto um roteiro de livro, mas tenho medo de escrever. É sério. Não é pânico, é medo. Então, a qualquer momento eu vou começar. Sobre isso eu posso falar em outro texto.

Eu vim aqui neste domingo a noite de ócio escrever apenas algumas coisas sobre mim. Não deve ser interessante pra você, mas serviu para eu pôr pra fora um pouco dos meus costumes, sobre minhas inspirações. A vida me inspira...e eu escrevo. Meu cappuccino acabou, então eu vou parar por aqui.

quinta-feira, 15 de março de 2018

O poder da memória


Dentre tantas outras referências, vivemos a época do registro. Todo e qualquer momento considerado especial na vida de um indivíduo, está aberta a câmera do smartphone e um clique é feito frente a sorrisos e poses. E se a imagem não ficar boa, sob avaliação de alguém, ela é refeita. O registro é, na maioria das vezes, exposto nas redes sociais para que as outras pessoas vejam. Em shows as pessoas filmam, fotografam, gravam áudio. Em pedidos de casamento um terceiro filma. Em encontro com amigos num bar é feito uma álbum cheio de fotografias. Mas o melhor e mais importante registro é o da memória. A minha memória tem mais espaço que o meu HD de 500GB ou meu cartão de memória de 16GB do smartphone. A sua também tem. O espaço da memória humana é maior do que qualquer objeto ou plataforma mensurável.

Portanto, a melhor forma de registrar um momento é não esquecendo que um dia ele ocorreu. Se um dia você tiver um momento de alegria comigo, nunca se esqueça. Eu também não esquecerei e o registro estará feito. O mais valioso deles!

quarta-feira, 14 de março de 2018

As leis da vida e a vontade do homem


Talvez a humanidade seja muito recente para que a ciência da psicologia tenha descoberto tudo que nos envolve. Acredito que ainda há muito a descobrir sobre o intelecto humano e suas capacidades, até porque o mundo está em constante evolução e o ser humano nela está envolvido.
Mas andei pensando sobre duas vertentes que se esbarram no meio desse caminho que o homem trilha. Aqui nesta terra há duas coisas distintas entre si e que geram um desagrado e, talvez, sejam elas as responsáveis pela maior dificuldade do ser humano de se encontrar individualmente: as leias da vida e as suas vontades.

A vida humana tem suas leis. Elas são compostas por coisas que a gente não domina. A filosofia e psicologia tentam explicar, até com relativo sucesso, como algumas delas ocorrem e qual a forma de conviver com elas harmoniosamente. Aquilo que a gente não escolhe que aconteça – a morte é a mais básica delas – e que temos de achar ferramentas para transpô-las. A capacidade do ser humano de amar é uma delas. Amar, apaixonar-se não é uma escolha. É uma lei da vida. É a consequência de múltiplos atos praticados pelo indivíduo que, muitas vezes, ele nem percebe que os praticou. Em ocasiões ele não quer e/ou a segunda pessoa envolvida não deseja e o cidadão maravilhado pelo sentimento de borboletas no estômago tem de quebrar a barreira que ele não pediu para que aparecesse.

Imagem retirada do site www.medium.com

Do outro lado existe a vontade do ser humano. Essa, perante a primeira observação feita acima, é a mais complicada. Tudo porque as vontades do ser humano quase nunca sobrepõem as leis da vida. Nossas vontades são uma marolinha perante aquilo que não dominamos e que nos acontece sem escolhas. Talvez o querer seja a virtude menos interessante da vida humana e certamente é a origem de todo o sofrimento. O ser humano nem sempre “tanto faz”. Ele quer. Desejo é eros, dizia Platão. Eros é a vontade daquilo que lhe falta. E possivelmente o que lhe falta continuará faltando em respeito às leis da vida.

O ser humano tem livre arbítrio até a página dois. Ele foi abastecido por sentimentos incontroláveis que não é de sua escolha e elas não farão frente a esses sentimentos. Agora, pare para pensar nisso que lhe contei após uma breve reflexão. Não é o desejo a origem de todo o sofrimento? Por outro lado, talvez você imagine que não, que a origem de todo sofrimento seja as leis da vida. Mas nós nos adaptamos conforme as leis ou as leis que se modificam pelas nossas vontades? O ser humano evolui. E muitas vezes mudou geneticamente para se adequar às leis da vida e ultrapassar com tranquilidade suas dificuldades. Será que ainda passaremos por uma metamorfose psicológica para aguentar o tranco que a vida nos impõe?

Esse é apenas um pedaço dos meus devaneios para a reflexão do leitor. Pensar as vezes faz bem, mesmo que pareça uma bobagem. Uma coisa eu alerto, caso ainda não pratique: interprete bem as leis da vida para que suas vontades e desejos não deem de cara com aquilo que não podem competir, porque a dor da batida é latejante e covarde.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Reflexão sobre a morte


A morte é escrota.

Me desculpe pelo termo chulo usado na frase anterior, mas foi o adjetivo menos agressivo que achei para traduzir algo em que tenho asco quando penso, embora pense com frequência.

Ontem me encontrei com dois amigos para sentar numa mesa de bar, pedir cerveja e conversar com qualquer jogo ao fundo na TV. Uma conversa que foi uma mistura de desabafo, com papo em dia e lembranças. E numa dessas lembranças veio à tona a saudade de um amigo. Um indivíduo querido no nosso grupo de estudantes, quando começamos a faculdade de jornalismo. Tão querido que deixou o curso no meio e não deixou seus parceiros para trás.

Nós o perdemos há quase três anos para um acidente automobilístico. É aquela morte que não se espera e nem se entende por dias. Há quem tenha uma visão menos pessimista da morte. Mas a maioria das pessoas enxergam esse estorvo da vida como um fato inaceitável. Porque eu poderia ter naquela mesa mais um amigo e simplesmente não tenho. Não terei mais. A minha vida vai chegar ao fim e eu não mais o verei. E esse pensamento machuca, é entristecedor. E achou aquela mesa numa de nossas lembranças em que nosso amigo esteve presente através de lembranças, sempre positivas.

Num determinado ponto da conversa um dos meus parceiros sentados à mesa disse: “eu fui na pior parte, a do sepultamento. Fui eu quem viu a primeira pá de terra sobre a urna e é inacreditável”. É isso que dói mais. É desesperador ver a terra cobrindo um corpo que há pouco tempo te abraçava, te sorria, vivia.

Ele não sente mais nada. E nós? Nós sofremos, choramos, sentimos falta, perdemos um pouco de nós mesmos em cada pessoa que a gente tem carinho que se vai. A terra não cobre só uma urna, ela cobre uma história que antes era viva. Cobre sonhos, esperança, desejos. A terra cobre um pedaço de nós, só não passa pela garganta, onde a partir daquele momento existe um nó.

A morte é escrota.