A morte é escrota.
Me desculpe pelo termo chulo usado na frase anterior, mas
foi o adjetivo menos agressivo que achei para traduzir algo em que tenho asco
quando penso, embora pense com frequência.
Ontem me encontrei com dois amigos para sentar numa mesa de
bar, pedir cerveja e conversar com qualquer jogo ao fundo na TV. Uma conversa
que foi uma mistura de desabafo, com papo em dia e lembranças. E numa dessas
lembranças veio à tona a saudade de um amigo. Um indivíduo querido no nosso
grupo de estudantes, quando começamos a faculdade de jornalismo. Tão querido
que deixou o curso no meio e não deixou seus parceiros para trás.
Nós o perdemos há quase três anos para um acidente
automobilístico. É aquela morte que não se espera e nem se entende por dias. Há
quem tenha uma visão menos pessimista da morte. Mas a maioria das pessoas enxergam
esse estorvo da vida como um fato inaceitável. Porque eu poderia ter naquela
mesa mais um amigo e simplesmente não tenho. Não terei mais. A minha vida vai
chegar ao fim e eu não mais o verei. E esse pensamento machuca, é
entristecedor. E achou aquela mesa numa de nossas lembranças em que nosso amigo
esteve presente através de lembranças, sempre positivas.
Num determinado ponto da conversa um dos meus parceiros
sentados à mesa disse: “eu fui na pior parte, a do sepultamento. Fui eu quem
viu a primeira pá de terra sobre a urna e é inacreditável”. É isso que dói
mais. É desesperador ver a terra cobrindo um corpo que há pouco tempo te abraçava,
te sorria, vivia.
Ele não sente mais nada. E nós? Nós sofremos, choramos,
sentimos falta, perdemos um pouco de nós mesmos em cada pessoa que a gente tem
carinho que se vai. A terra não cobre só uma urna, ela cobre uma história que
antes era viva. Cobre sonhos, esperança, desejos. A terra cobre um pedaço de
nós, só não passa pela garganta, onde a partir daquele momento existe um nó.
A morte é escrota.
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