É
isso. Sem rodeios. Não existe amor à primeira vista.
Certamente
uma festa a convite de amigos ou mesmo uma saidinha de balada ou barzinho são
bons lugares para se gostar de alguém. É natural que um papo bem fluído, aliado
a características que você enxerga como qualidades presentes neste alguém vai
te ajudar a brilhar os olhos por ele ou ela. A beleza também pode te fascinar,
mesmo que as ideias do outro não bata com as suas.
Desisto
de pensar que você vai convidar para sair outro dia alguém que seja um chato de
galocha, que se apresente como um porre em dez minutos de social. Mas alguém
que você não teve oportunidade de falar em particular pode te fazer dar uma
segunda chance, um segundo encontro. Acredito que já tenha acontecido com você,
leitor, de sentir este súbito desejo por alguém que tenha se esquecido de pedir
o telefone e não tenha mais visto. A sensação de perder uma grande chance é
amarga.
E
o sentimento de desprezo? Aquele que te dá a certeza de que o outro não te viu
como você o viu?! Talvez isso possa até ter lhe desencorajado de seguir em
frente nas suas tentativas. E talvez você tenha se arrependido de não ter
buscado coragem para destruir esta barreira do desprezo. Porque não há motivos
para pensar que aquele momento que te pareceu desprezo não possa se tornar uma
página virada e se transformar num grande amor, não é mesmo?
Agora
vamos falar do sucesso. Voltemos à festa, à balada ou ao barzinho. Aquele
sorriso, o jeito de arrumar o cabelo, o charme ou mesmo o perfume e o olhar te
fez ver o outro com olhos de cristal. Você nem se concentra mais na música ou
está pouco se importando com o que diz o grupo de pessoas que esteja com vocês.
Isso e recíproco e posteriormente vocês saem, se relacionam...os gostos batem,
tudo dá certo. Sua história é extraordinária. Estiveram no lugar certo, na hora
certa, se encontraram, o santo bateu e...foi amor à primeira vista. Como?
Não
sei se você já procurou a definição de amor no dicionário. Mas se ainda não
fez, não faça. Isso não vai te esclarecer. Dizer que o amor e inexplicável não é
clichê, mas dá para construir uma ideia mais ou menos definida do que seja. Você
pode já ter parado para pensar nisso e certamente vamos concordar. E se você
não refletiu sobre o assunto, fará agora. O que você sente por alguém que
acabou de conhecer, que viu pela primeira vez, é simples e unicamente encanto,
desejo. Se preferir, pode escolher outra palavra que seja sinônimo. Dependendo
do caso, você pode até chamar de paixão. Mas prefiro achar que a paixão ainda
vem depois, no desenvolvimento, no “pré-amor”. Sentir amor não é tão fácil
quanto parece ou quanto se diz.
Se
você acha que existe amor à primeira vista ainda há em quê se apoiar. Segundo
Platão (séc. III a.C), desejo é eros, significa querer o que não se tem. O amor
por algo ou alguém, pode ser imediato como num encontro, que não precisa ter
atração física. Daí o termo que tantos usam “amor platônico”. O encanto pelo
outro é tão forte que você passa a sentir amor. Embora Platão seja um gênio da
filosofia e da matemática, eu prefiro rechaçar sua teoria. Acho que ela
enfraquece e empobrece o amor, além de tirar a referência que se tem para analisar
um sentimento mais forte, que poderíamos não conseguir definir se tomarmos como
verdade a teoria platônica. Caso o faça, deverá seguir por regra que amor tem
limites. Ora, se amar é desejar o que não tem, quando tiver você não amará mais
e passará a querer outra coisa ou alguém. É um bom argumento para quem diz que
o mais legal de uma relação é a conquista e não o desenvolvimento posterior.
Não
há proibição alguma de seguir a teoria de Platão, mas há de se receber em troca
as consequências. Você as aceita? Talvez queira ir mais fundo na análise, como
eu gosto de fazer. Primeiro sente o encanto, o desejo. Depois, com conhecimento
do outro e as afinidades que criam com o tempo você sentirá algo que lhe parece
estranho e que, segundo os neurologistas, te deixa, digamos, com uma dose a
menos de inteligência. Talvez esta frase soe meio rude com você, mas a paixão
tira de ti um pouco da capacidade de refletir sobre a sua relação, inclusive
com o mundo à sua volta. Lembra-se do termo “o amor é cego”? Prefiro me referir
assim à paixão. “A paixão é cega”, diria. O amor é racional, dentro do
entendimento de que amar é se entregar ao outro.
Se
você não ama de forma conjugal (elimine agora amores de pais, amigos, irmãos etc.),
deve achar que quem ama e vive para si e para o outro é tolo ou cego, como diz
o termo. Na verdade viver assim é viver racionalmente dentro da escolha que se
fez em amar. Ou mesmo da vida que te levou até este amor e você aceitou de bom
grado. Jesus de Nazaré, quando veio a terra, deixou a seguinte lição: ao final
da vida, você só terá tido vida boa, vida satisfatória, se tiver sido entregue
inteira e assumidamente ao outro, seja ele seu parceiro, seus pais ou quem for.
Então, a partir do momento que se mana, entrega-te. Prefiro acreditar no
filósofo Jesus. E não está incluso neste texto o fato de ser figura religiosa,
e sim por seu pensamento registrado no livro que deixou de ensinamento. O
resumo da ópera diz que: há razão no amar, desde que você assuma que amar é
entregar-se pluralmente.
Nesta
altura do texto você já deve estar repensando o termo “amor à primeira vista”,
acredito. A primeira vista ainda está um pouco distante de se tornar amor. Mas
pode vir a ser, após ultrapassar algumas etapas nesta relação. E não tenha medo
de amar. Jogue-se sobre este sentimento. Não haverá arrependimento. A vida dificilmente será completa se não
houver amor. O encanto é bom, o desejo enriquece o viver, mas o amor ensina,
doutrina e amadurece o ser.
Amor
à milésima e, quiçá, eterna vista.
(Você pode saber e refletir mais sobre o amor no canal "Crônicas do Chico", do meu talentosíssimo colega Chico Garcia)

Nenhum comentário:
Postar um comentário