De
repente estava de pé.
Roupas
largas, blusa de manga longa e um calçado confortável. Tudo branco. Olhou-se de
cima a baixo, tentando entender onde estava e quando havia vestido aqueles
trajes. Não havia qualquer tubo conectado às suas veias e nem máscara de
oxigênio. Não sentia dor alguma. A sensação era de puro e completo bem-estar e
energia. Aquilo despertou nele medo.
Olhou
à sua volta e viu paredes rigorosamente brancas e um piso colocado no solo de
forma absolutamente perfeita. O local era um corredor enorme, que aparentemente
não tinha fim. A vontade de explorar o local sobrepôs qualquer tipo de
pensamento, do tipo “cadê todo mundo?”. O medo se dissipou e ele se pôs a
caminhar em linha reta.
Passou
por duas portas, uma de cada lado do corredor largo, frente a frente. Estavam
fechadas e ele seguiu. Caminhou por aproximadamente 20 metros quando começou a
ouvir passos e uma voz feminina. Ele percebeu que alguns passos à frente havia
um corredor perpendicular ao que estava, virando à esquerda. Quando chegou
próximo dele, avistou várias pessoas vindo na direção contrária, vestindo as
mesmas roupas. Elas eram guiadas por uma mulher de pele negra e cabelos
cacheados. Ela também vestia branco, parou e sorriu para ele. Ainda se sentia
grogue e só fez observar a linda mulher.
-
Olá. Junte-se a nós. Você deve ser o Kléber. Era você que esperávamos. – Ele hesitou
por um instante. Ela insistiu – não tenhas medo. Tem outras pessoas esperando
por você.
Ela
pôs-se a andar, com aquela multidão a seguindo. O sorriso no rosto daquelas
pessoas, de diferentes etnias e trejeitos deu coragem a ele, que se juntou ao
grupo. Passaram por uma porta e entraram numa sala quadrada, tão limpa e
iluminada quanto o corredor que acabara de atravessar. Havia poltronas
espalhadas por toda a sala e, no canto oposto à porta um homem estava de pé, esperando
pela entrada de todos.
As
pessoas se acomodaram todas caladas. O homem pegou uma folha e começou a ditar
nomes. Nesse instante, ele entrou num devaneio e começou a relembrar o que
havia se passado antes de se perceber naquele lugar. Um bip, barulho de passos
e vozes de pessoas ao seu redor. De repente o negro invadiu sua mente e ele
voltou ao ambiente esbranquiçado daquele lugar estranho. Mas não
suficientemente estranho para ser desagradável. Pelo contrário. O ar daquele
local o deixava anestesiado de bem-estar. A voz do homem no canto da sala soou
mais alto e ele voltou à sua nova realidade.
-
Kléber Farias. – Ele não respondeu, apenas olhou atentamente o homem, que sorriu,
olhou em direção à porta e disse: - o Kléber chegou.
A
roupa branca de uma segunda figura iluminou ainda mais a entrada da sala e a
felicidade contagiou seu peito de forma jamais sentida.
-
Vô?!
-
Oi, molequinho. Venha, você está na minha lista. Vou te levar pra casa. Estava
morrendo de saudades de você.
(Essa
crônica é uma homenagem a Kléber Farias, irmão de uma grande amiga, Verônica
Farias, que fez sua passagem após lutar bravamente contra uma doença devastadora. "Somente o justo desfruta de paz de espírito" [Epicuro])
