domingo, 26 de janeiro de 2014

Da Guerra

Em primeiro lugar, creio que a organização humana existiu desde os primórdios, mesmo que de maneiras bem diferentes do que entendemos hoje. Desde os primeiros tempos, seres humanos frearam seus instintos de agressividade e libertinagem ao perceberem, por si próprios, a impraticabilidade de um estado de coisas dominado pelo caos e liberdade absoluta (algo de Hobbes aqui?). O sistema de crenças e religiões será um dos primeiros filtros à ação ‘’anárquica’’ do comportamento dos primeiros seres humanos. A lenta organização interna da Humanidade, de seus valores e comportamentos, sistemas e culturas, é algo fascinante. Estamos falando talvez do cerne do termo História.
Sobre a questão da interação de seres humanos que gera disputa há de se fazer alguns parênteses. Seres humanos lutam tanto pela necessidade quanto pelo luxo. Tanto pelo trabalho quanto pela comodidade. Está aí o capitalismo que não nos deixa mentir. O ser humano tem em si a necessidade de facilitar sua vida.
E é aqui que entra a tríade Disputa – Combate – Guerra. A disputa por satisfação de desejos abstratos ou pela efetiva satisfação de desejos fisiológicos faz parte da primeiríssima experiência humana, tanto no âmbito mítico (o conflito entre Deus e o Homem por conta do pecado) quanto no âmbito puramente material. Brigas por comida (fisiológico) ou pela simples manutenção da posse de dado grupo de fêmeas com quem o leão quer acasalar (fisiológico) ou a guerra por controle de jazidas petrolíferas no Oriente Médio.
Porém, aqui se deve atentar aos termos.
O problema começa quando se cai na introdução de um raciocínio que atribua exclusivamente, ou ao menos em grande medida, à economia a causa de Guerra. Mais: falar em dinheiro é ainda mais complicado. Se há grande predomínio de questões econômicas na Guerra atual, isso se dá pela cada vez mais intrínseca e normal relação entre política e economia (se levarmos em conta o raciocínio clausewitziano que atribui a Guerra à esfera exclusivamente política, no que não concordo, tendo a considera-la um fim em si de análise sócio político histórica). O dinheiro revoluciona a Guerra, mas não tira dela sua essência, que é parte da essência humana. Há linhas e linhas do estudo de polemologia e História militar que atribuem causas e origens ao ímpeto pela Guerra. Prefiro ficar com a mistura. Guerra é instinto Humano (pode-se tirar do ser humano o dinheiro, o poder, a economia, a política e etc. e ainda assim haverá guerra) ao mesmo tempo em que é também uma invenção humana. É a materialização da natureza humana posta num sistema de regras e comportamentos a que chamamos Guerra.
A atitude humana frente à Guerra pode ser analisada de muitas maneiras. O que você fez foi analisar de uma maneira positiva, até utópica, dando valor ao discurso de que o caminho é sempre a paz. No entanto há problemas nessa compreensão. Até em Affonso Romano de Sant’ana vemos que Guerra e Paz são margens de um mesmo rio, não caminhos contrários. São complementares. São Oroboro.
Sobre o combustível da Guerra, há de se dizer certo o que vários autores já constataram: A bestialidade humana, de todos nós. O homem bom e tranquilo Joseph se transforma no maníaco Goebbels que vai cuidar da propaganda nazista e, no fim de tudo, matará toda a família. O bom trabalhador hutu ruandês que beija a esposa na testa antes de ir trabalhar, é o mesmo que vai trucidar um bebê tutsi com um facão. Não se vê aqui qualquer necessidade econômica.
O dinheiro defina como uma guerra será travada, com que meios, mas não define a guerra em si, sua natureza, sua bestialidade intrínseca.
Sobre diferenças: Carrego comigo um grande peso quando penso nisso. Acho igualmente tirânico o pensamento de que se deve, a despeito de tudo, aceitar as diferenças de todos com passividade total acordo. A diferença move o humano, um em direção ao outro ou na direção contrária. Os dois movimentos são legítimos. Há que se aceitar a diferença! Mesmo? Será? Será que o simples fato de não aceitar a diferença seja, por si só, um motor para o progresso humano? A homogeneização do diferente na comunidade que o aceita passivamente não destrói a própria diferença? O distanciamento dos diferentes não pode produzir algo de útil ou bom? Ao menos a originalidade do diferente?
Sobre julgar, é não só natural como desejável e fundamental para a vivência individual ou grupal. Julgar é atribuir valor e não há vida possível sem a atribuição de valor. O julgamento de que isto é bom e isto é mau é o que nos mantém vivos.
(Bruno Izaías da Silva - É Licenciado em historia pela universidade

do vale do sapucaí - especializando em historia militar pela 
universidade do sul de santa catarina e ighmb)



Um comentário:

  1. Falar de gerra é sempre interessante, pois se trata resultado de um comportamento humano, que pode ser visto de muitas formas dependendo da ótica de quem vê. Pode ser bem vista pelo lado de quem acha que esta só se defendendo de uma ameaça eminente, ou mal vista por quem é atacado sem forma de defesa, ou desnecessária por quem assiste tal problema, e cada um pode julgar da forma que lhe convêm, pois gerra na verdade não é só uma luta política ou religiosa, se resume em um desejo humano pelo poder. Acredito que a paz e a liberdade são uma utopia, o homem precisa de quem o direcione, precisa de leis, para evitar o caos. Porém a gerra é um extremo desesperado pelo poder, que pode ser evitado com acordos bem estabelecidos, se houvesse bom senso de ambas as partes de quem faz gerra. Mas o natural do homem é querer se sobressair sobre o próprio homem, somos a únicos a matar a própria especie sem motivos fisiológicos, (para se alimentar). Nos matamos por desejos próprios que são desfaçados de por necessidades politicas.

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