Sevilha,
Espanha. 27 de Julho de 2007.
A cidade ainda acordava quando
Margarita saía para trabalhar, de uma casa na qual tinha saudades, mas que não
tinha intenção de voltar. Voltou. Sua condução era um ônibus e seu caminho não
era longo. A chegada ao restaurante Ravier, onde agora trabalhava como
garçonete, fez Margarita refletir sobre o que lhe havia acontecido há duas
semanas.
Huelva,
Espanha. 15 de Junho de 2007. Pablo era consultor de vendas e trabalhava em uma
concessionária de carros no centro da cidade. Enquanto isso, Margarita se
atarefava em fazer o café e o jantar em um restaurante francês na zona sul de
Cádiz; trabalhava no período da tarde, estendendo até o final da noite. No dia
anterior àquele, a jovem de cabelos negros e longos em um corpo muito admirado
pelos rapazes da região, notou apreensão em seu noivo. Pablo acordou agitado e
com o rosto fechado, Margarita não o via assim desde a época de finais do
campeonato de rugby, na qual Pablo participava antes do noivado.
Pablo
fez questão de atender àquela cliente, conversaram durante um tempo e saíram no
carro dele. Era estranho ver o carro de Pablo parado em frente a sua casa
naquela hora do dia. Sem que ninguém percebesse, adentrou sua casa junto a uma
mulher de vestido preto e cabelo encaracolado. A casa tinha o perfume de
Margarita, mas naquele momento Pablo não tinha olfato.
-
Esta será a ultima vez, Pablo.
Pablo
sempre confiou em Carlota desde que começaram a sair; mas ela o traiu. No final
de tudo, Carlota, propositalmente, deixou cair no banheiro uma de suas
vestimentas, a mais baixa. E saíram.
Margarita
sempre chegava mais cedo. Mas naquele dia, quando Pablo ultrapassou a porta de
entrada só encontrou silêncio. A ausência das roupas de Margarita no
guarda-roupa o fez decifrar o que estava acontecendo ali. Neste momento,
passaram pela cabeça de Pablo todas as aventuras passadas ao lado dela: viagem
à Alemanha, piquenique no parque de Córdoba, o passeio na praia, os jogos de
rugby. E ele pôde sentir o gosto do arrependimento e aquela sensação de dor no
peito.
Àquela
altura, Margarita já estaria de volta à casa de seus pais, em Sevilha, pensando
no porquê estaria acontecendo algo tão inimaginável até então. Naquela noite, ele
se deitou, sem ao menos tentar explicar-se; já sabia o culpado. Apenas tentou
dormir, em vão. Ao nascer do sol, Pablo levantou-se e, sem rumo, caminhou pela
cidade vazia. Chegando à praia, ele pôde reparar nos passos na areia molhada, e
isso lhe fez sentir o que jamais havia sentido por Margarita. A saudade.
Sevilha,
Espanha. Abril de 2009. Margarita casa-se com Esteban e já espera aquele que
será seu primeiro niño, o sonho de sua vida. Estuda direito e
pretende ser delegada; Esteban é proprietário de uma construtora civil.
Huelva,
Espanha. Maio de 2010. Pablo Pedrosa Martins se suicida na ponte de pesca do
Mar Mediterrâneo, depois de escrever, com pegadas na areia, um nome feminino,
que a polícia busca significado.
(Este conto é uma republicação. Foi o primeiro texto publicado neste blog, em agosto de 2010)
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