O tempo
se abriu. O azul do céu limpo, com nuvens de espessura ignorável ao longe,
brilhava tanto que deixava o mar com um aspecto de quilômetros incontáveis de
cristal andara. A areia branca da praia, em contraste com as pedras que as
ondas encontravam, fazia com que o cenário ficasse milhões de vezes mais rico.
Não para fotos, mas para admirar a olho nu e se perguntar eternamente como
seria possível. As rochas, algumas lisas e outras em formato repuxado, como se
a água e o vento tivessem quisto que elas fossem mais para longe, com rasuras
de um vertical preciso, brilhavam com o nascer do sol por trás do monte. Deus
jogou vida naquele dia. Com uma pitada de sal e ansiedade.
No dia anterior
Era 19
de janeiro. O tempo estava enuviado pela manhã, com o sol por trás, por vezes
presente. Saímos com o carro do estacionamento do motel, que foi suficiente
para dormirmos quatro horas depois de um dia cheio e uma viagem cansativa, e
pegamos a estrada. O caminho era longo. Extensos 300 km de Fortaleza até
Jijoca, onde o maior trecho do trajeto era em pista de mão dupla. Quando o visor
da trip estava apontando mais da metade do caminho, uma tempestade resolveu
lavar tudo que tinha sobre a Terra. Buracos. Reduzimos a velocidade.
Era a
véspera do grande dia e a chuva não cessava. Conforme chegávamos perto do
destino, o céu ficava mais cinza. Nós tínhamos todas as ferramentas para cair
em desânimo e pensar que deu tudo errado. Mas a fé que anima nossa alma era bem
mais forte que aquela água que não caía com tanta violência naquele local há
muito tempo. De Jijoca, mais quarenta minutos nas dunas alagadas do parque
nacional Chico Mendes até a vila de Jericoacoara. Valetas cheias de água que
mais pareciam novas lagoas dando um alô ao paraíso. O tempo e água eram turvos.
Um marrom claro misturado ao cinza. Lameado. Areia úmida.
Nos
instalamos. Parou de chover. Saímos para almoçar. Chuva novamente. Nos
concentramos. Entramos numa meditação de olhos abertos e mente funcionando tão
profunda que a energia dos bons ares se dissipou por toda a região. À noite, já
com estrelas dando indícios de glória, à porta da capela de Nossa Senhora de
Fátima, eu escrevi meus votos, enquanto ela provava a maquiagem no quarto da
pousada. Entrei, me ajoelhei. Próximo ao altar, uma dúzia de jovens ouvia do
catequista orientações sobre os costumes católicos. Fechei meus olhos e rezei.
“Senhor, ilumine a
minha segunda-feira com um sol lindo e um dia maravilhoso. Leva para longe sua
tempestade, fazendo-a cair numa outra oportunidade. E, principalmente, se
coloque em nossos corações para o dia de amanhã. Coloco em suas mãos as nossas
vidas. Amém”.
O dia
Era pouco mais de 5h quando
o celular despertou no quarto da pousada. As janelas e cortinas fechadas
impossibilitava de ver como estava o dia lá fora. Nos preparamos e saímos. Como
num sopro divino, o sol nascia por trás do monte, livre de qualquer obstáculo.
Consegui ver de longe o sorriso dele para mim. Saímos para um ensaio
fotográfico em um dos lugares mais incríveis que já fui. Foram mais de 2km
caminhando pelo monte, chamado pelos locais de serrote, até a tão buscada pedra
furada. Mas naquele dia ela estava diferente. Bonita, brilhante, exposta e
nossa.
Naquele
momento, como uma tela pintada com detalhes minuciosos, eu estava dentro de um
sonho. Enfincado dentro de um pedido que fiz à Deus na véspera. Ele me deu de
presente o pedido que fiz com tanto afinco e fé. Dali em diante qualquer imagem
que saísse daquele ensaio seria uma obra de arte de ótica, sentimento e
felicidade.
