terça-feira, 19 de junho de 2018

O mar

A natureza do mar é tão maravilhosa como qualquer descoberta humana na ciência. A água vem de longe, as ondas quebram na praia, uma a uma, e depois voltam, até beijarem novas ondas que vem e vão, perdendo-se no oceano infinito ao olho humano. É um ciclo que não se acaba.

sábado, 2 de junho de 2018

Surpresa



Há alguns dias Letícia sentia uma diferença no comportamento de Roberto. A casa que eles pensavam em reformar ainda estava do jeito que fora construída. Nada havia sido mexido, por mais que Letícia tentasse furar a barreira espessa dos desvios de conversa do marido. Notava um distanciamento incomum dele para com ela.

- Roberto, e a nossa reforma? Não vamos mais falar sobre isso? – ela tentou.

- Calma, Let. Depois a gente vê. Você sabe que ando atribulado de trabalho.

- Mas nós não falamos nesse assunto há semanas.

- Prometo que em breve a gente volta a tratar disso, ok? – Ele se levantou, deu um beijo na testa da esposa e subiu para o quarto.

Letícia chorava em silêncio. Ela tinha no escritório onde o marido trabalhava uma amiga que ele não sabia. A secretária do gerente de finanças era sua aliada e ela havia pedido para que a moça o observasse. Desconfiava que poderia estar entrando em cena uma terceira figura que pudesse atrapalhar seu matrimônio. Mas Vera, sua aliada, nada havia notado nada de diferente nas ações de Roberto. Na última ligação, Vera tranquilizou Letícia.

- Amiga, não tem nada. Ele continua na sua rotina normal. Já fui até almoçar no mesmo restaurante sem que ele percebesse e não vi nada de estranho. Ele continua almoçando com o Miguel e o Carlos. E quando sai daqui vai direto para casa – confirmou.

- É, ele tem chegado no horário normal. Exceto por segunda-feira, que chegou um pouco mais tarde e disse que era porque demorou a terminar o relatório.

- Que relatório? – Indagou vera.

- Eu não sei, não faço ideia de suas atividades. Só disse que atrasou um relatório importante e por isso ficou um pouco mais. – O silêncio de Vera do outro lado da linha colocou uma dúvida ainda maior na cabeça de Letícia.

- É...talvez. Bom, preciso desligar, ainda tenho de preparar o jantar. – Finalizaram a ligação.
Letícia passou a noite pensando no diálogo que tivera com Vera e desde então não conseguiu dormir direito. Depois de tanto refletir, tomou uma decisão.

Naquele dia ela resolveu tentar pegar Roberto em flagrante na sua saída do trabalho. Vestiu-se com uma roupa que não costumava usar e saiu no horário do final do expediente do marido. Estacionou o carro na avenida perpendicular de onde Roberto deixava o seu.

Não demorou muito e ele saiu do prédio. Parecia apressado e preocupado com quem andava à sua volta. Entrou no carro e saiu. Letícia o seguiu a uma distância segura e sentiu um gelo na espinha quando ele virou à direita, numa direção que não era a de sua casa. Andou duas quadras e estacionou. Saiu do carro com uma maleta, atravessou a rua e entrou num café. Letícia respirou fundo, fechou os olhos, abriu-os depois de alguns segundos e deixou o carro.

Foi até a porta do café e, sem entrar, olhou para ver onde estava Roberto. Ele se encontrava no canto oposto à porta, encostado no vidro lateral do ambiente, de lado para onde estava Letícia. Na sua frente uma moça, bem vestida, de cabelo escuro e liso. Ela sorria para ele e ele devolvia o gesto. Letícia não sentia o chão sob seus pés. A única ação que pôde fazer, sem perceber, foi pegar seu carro, ir até a casa, organizar tudo que poderia levar e sair. Sua intenção era nunca mais ver a figura de seu marido na sua frente. Ela não precisava ver mais nada.


O cerco estava se fechando. Roberto já notava na mulher uma inquietação e ela o questionava demais nos últimos dias. Ele já tinha certeza que suas atitudes haviam mudado sem que percebesse apenas pelas ações de Letícia. Não sabia mais como esconder aquele segredo da mulher. Teve de acelerar o processo e marcou um encontro por telefone.

- Pode ir amanhã? Por favor, eu preciso falar com você. A Letícia tá no meu pé, acho que está desconfiada. Ok, então amanhã após meu expediente, ali no café da quarta avenida. Obrigado. Beijo. – encerrou a ligação, enquanto Letícia estava no banho.

No outro dia, ao final do expediente, Roberto saiu. Pegou seu carro e foi até o café, onde havia marcado o encontro. Quando chegou, ela já estava lá, sentada numa mesa ao fundo.
Ele se sentou, pediu uma bebida e se pôs ansioso. A arquiteta era uma indicação de confiança, ele tinha certeza que naquela conversa começaria a realização de um sonho e a reforma de sua casa ficaria do jeito que a esposa queria. “Letícia vai amar”.