terça-feira, 2 de outubro de 2012

A influência norte americana no Golpe Militar de 1964

            Quando se fala em golpe de estado vem imediatamente à cabeça uma briga política dos grandes, dos presidentes. Quando se fala em golpe de estado no Brasil, em 1964, a primeira coisa que pensamos é no presidente e nos militares, sem mesmo saber como tudo começou, por quem começou e quem foram os militares. A palavra Ditadura é conhecida por todos no Brasil, mas pouca gente já pronunciou o nome de Lincoln Gordon, nem tampouco sabe quem foi.

Em meio o interesse que o Brasil tinha no Brasil na metade do século XX, Lincoln Gordon articulou algumas medidas para que os EUA não perdessem com qualquer ameaça comunista no Brasil, visto que problema parecido havia acontecido em Cuba, tempos antes. Ele era embaixador dos EUA no país, e trabalhou bastante para a derrubada de João Goulart – que agora passaremos a chamar de Jango –, fazendo o intermédio entre militares e o presidente vigente no poder americano.

Em 1962, os Estados Unidos, bem ativos no Brasil, começaram a temer as atitudes de Jango, suas medidas e vontades, sob forte suspeita de que ele estaria implantando no país um sistema comunista ditatorial. Neste momento, os EUA estavam sob domínio do presidente John Kennedy, que tinha um “amigo mensageiro” no Brasil: o embaixador Lincoln Gordon. Toda e qualquer informação que Gordon obtia sobre as ações de Jango, eram passadas para Kennedy, juntamente com um conselho de Gordon, que tinha toda a confiança do presidente.

A todo o momento Kennedy e Gordon insistiam em dizer que não gostariam de uma nova Cuba na América Latina. Derrubar Jango do poder era a única forma de manter em alta o sistema capitalista implantando pelos EUA. Goulart fazia diversos comícios e aparições prometendo reforma agrária e defendia o voto direto. Com isso, conseguiu conquistar a confiança do povo e levava consigo o apoio da maioria. Porém, os opositores de Jango viam nele uma vontade de se tornar um ditador e temiam que ele não convocasse as eleições de 65. Foi então que os EUA, a partir de Lincoln Gordon – mas com uma leve contrariedade do presidente Kennedy no começo –, começaram a mandar dinheiro para que os opositores, liderados por Carlos Lacerda – governador da Guanabara – e Adhemar de Barros – governador de São Paulo –, fizessem campanha para as eleições e mostrassem ao povo a visão deles sobre o governo Jango. Esta ação foi executada através do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais).  Neste momento os EUA começaram a agir diretamente para que ocorresse, dois anos depois, o golpe.

É claro que, ingenuamente, o povo que andava junto a Jango não percebia a ação dos EUA de Gordon nas entrelinhas para derrubá-lo. Em meio a execução deste trabalho pelo país norte americano, o presidente John Kennedy é assassinado e dá lugar a Lyndon Johnson. E para quem achou que este faria algo para impedir a operação do golpe, se engana. Johnson fez tanto quanto Kennedy e mais: colocou a força naval norte americana nas nos portos brasileiros. Mas isso vem depois. Em março de 1964, Jango convocou um comício que reuniu milhares de pessoas em frente à Central do Brasil. Com tanques de guerra por toda a parte e cartazes referentes à reforma tão esperada pelos sem terra, os militares começaram a se convencer de que Jango realmente queria implantar no país um regime autoritário. Foi então que as forças militares se voltaram contra Jango e se uniu de uma vez por todas a Gordon e Johnson.

Foi nesta ocasião que Gordon decide pedir para que Johnson colocasse as forças armadas navais nas fronteiras brasileiras, pois teria uma revolta militar contra o governo Jango para derrubá-lo. Gordon, inclusive, deixa claro para o presidente americano que o conflito seria “longo e sangrento”. Porém, ele não imaginava a reação pacífica do povo brasileiro ao ver os militares dominarem o poder. Johnson refletiu sobre a legalidade do que aconteceria em breve no Brasil, mas Lincoln Gordon conseguiu convencê-lo, como fazia com Kennedy, e as forças navais dos EUA com navios petroleiros e porta-aviões cercaram o porto de Santos para abrir fogo caso precisasse – a chamada Operação Brother Sam. Não precisou.

Jango, percebendo o golpe, tomou uma atitude pouco imaginada por pessoas que o apoiavam. Todos esperavam uma reação do presidente quanto ao que estava acontecendo. O exercito brasileiro estava nas ruas, confusão generalizada, repressão. Ante isso, João Goulart vai para Brasília e depois para o Rio Grande do Sul. Lá, além do apoio do Governador Leonel Brizola, Jango tinha exílio. Paralelamente a isto, no dia 1 de abril, Auro de Moura Andrade declara vaga à presidência da república. Neste momento, seguindo a constituição, assume o poder Ranieri Mazzili, presidente da câmara dos deputados, acusando Jango de abandono do poder. Sem imaginar que seria tão fácil, as tropas americanas se retiraram das fronteiras brasileiras. Jango, traído pelos militares, fugiu para o Uruguai para não ser morto. Em 15 de abril, Marechal Castelo Branco – que sempre fez o intermédio entre o esquema do golpe e os americanos – assumiu a presidência da república. E, pouco adiante, Castelo Branco tentaria um novo golpe para não sair mais do poder. Porém, é substituído por Costa e Silva em 1967.

Até hoje, algumas pessoas ligadas ao governo Jango não concordam com o fato de ele não ter reagido ao golpe, mas compreendem a vontade do presidente em não querer ver derramamento de sangue, pois se reagisse, sofreria intervenção dos EUA e começaria uma verdadeira guerra civil no Brasil. Mas na tentativa de livrar o seu povo do sangue, não conseguiu livrá-los da repressão e da prisão – para aqueles que não concordavam com o regime militar. A ditadura militar só foi sanada completamente em 1985, quando um novo presidente civil foi eleito: Tancredo Neves. E, até hoje, poucos sabem quem foi Lincoln Gordon e quase ninguém sabe a dor que ele causou a milhões de pessoas no Brasil.

Este é um trabalho universitário realizado sob orientação do professor e cientista político Edson Rildo.
Referências:

TAVARES, Flávio. O dia que durou 21 anos. Brasil: Pequi Filmes, 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=5TlYAKTRQ_8>

TENDLER, Sylvio. Jango. Brasil: Caliban Filmes, 1984.