Em
meio o interesse que o Brasil tinha no Brasil na metade do século XX, Lincoln
Gordon articulou algumas medidas para que os EUA não perdessem com qualquer
ameaça comunista no Brasil, visto que problema parecido havia acontecido em
Cuba, tempos antes. Ele era embaixador dos EUA no país, e trabalhou bastante
para a derrubada de João Goulart – que agora passaremos a chamar de Jango –,
fazendo o intermédio entre militares e o presidente vigente no poder americano.
Em
1962, os Estados Unidos, bem ativos no Brasil, começaram a temer as atitudes de
Jango, suas medidas e vontades, sob forte suspeita de que ele estaria
implantando no país um sistema comunista ditatorial. Neste momento, os EUA
estavam sob domínio do presidente John Kennedy, que tinha um “amigo mensageiro”
no Brasil: o embaixador Lincoln Gordon. Toda e qualquer informação que Gordon
obtia sobre as ações de Jango, eram passadas para Kennedy, juntamente com um
conselho de Gordon, que tinha toda a confiança do presidente.
A
todo o momento Kennedy e Gordon insistiam em dizer que não gostariam de uma
nova Cuba na América Latina. Derrubar Jango do poder era a única forma de
manter em alta o sistema capitalista implantando pelos EUA. Goulart fazia
diversos comícios e aparições prometendo reforma agrária e defendia o voto
direto. Com isso, conseguiu conquistar a confiança do povo e levava consigo o
apoio da maioria. Porém, os opositores de Jango viam nele uma vontade de se
tornar um ditador e temiam que ele não convocasse as eleições de 65. Foi então
que os EUA, a partir de Lincoln Gordon – mas com uma leve contrariedade do
presidente Kennedy no começo –, começaram a mandar dinheiro para que os
opositores, liderados por Carlos Lacerda – governador da Guanabara – e Adhemar
de Barros – governador de São Paulo –, fizessem campanha para as eleições e
mostrassem ao povo a visão deles sobre o governo Jango. Esta ação foi executada
através do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais). Neste momento os EUA começaram a agir
diretamente para que ocorresse, dois anos depois, o golpe.
É
claro que, ingenuamente, o povo que andava junto a Jango não percebia a ação
dos EUA de Gordon nas entrelinhas para derrubá-lo. Em meio a execução deste
trabalho pelo país norte americano, o presidente John Kennedy é assassinado e
dá lugar a Lyndon Johnson. E para quem achou que este faria algo para impedir a
operação do golpe, se engana. Johnson fez tanto quanto Kennedy e mais: colocou
a força naval norte americana nas nos portos brasileiros. Mas isso vem depois. Em
março de 1964, Jango convocou um comício que reuniu milhares de pessoas em
frente à Central do Brasil. Com tanques de guerra por toda a parte e cartazes
referentes à reforma tão esperada pelos sem terra, os militares começaram a se
convencer de que Jango realmente queria implantar no país um regime
autoritário. Foi então que as forças militares se voltaram contra Jango e se
uniu de uma vez por todas a Gordon e Johnson.
Foi
nesta ocasião que Gordon decide pedir para que Johnson colocasse as forças
armadas navais nas fronteiras brasileiras, pois teria uma revolta militar
contra o governo Jango para derrubá-lo. Gordon, inclusive, deixa claro para o
presidente americano que o conflito seria “longo e sangrento”. Porém, ele não
imaginava a reação pacífica do povo brasileiro ao ver os militares dominarem o
poder. Johnson refletiu sobre a legalidade do que aconteceria em breve no
Brasil, mas Lincoln Gordon conseguiu convencê-lo, como fazia com Kennedy, e as
forças navais dos EUA com navios petroleiros e porta-aviões cercaram o porto de
Santos para abrir fogo caso precisasse – a chamada Operação Brother Sam. Não
precisou.
Jango,
percebendo o golpe, tomou uma atitude pouco imaginada por pessoas que o
apoiavam. Todos esperavam uma reação do presidente quanto ao que estava
acontecendo. O exercito brasileiro estava nas ruas, confusão generalizada,
repressão. Ante isso, João Goulart vai para Brasília e depois para o Rio Grande
do Sul. Lá, além do apoio do Governador Leonel Brizola, Jango tinha exílio.
Paralelamente a isto, no dia 1 de abril, Auro de Moura Andrade declara vaga à
presidência da república. Neste momento, seguindo a constituição, assume o
poder Ranieri Mazzili, presidente da câmara dos deputados, acusando Jango de
abandono do poder. Sem imaginar que seria tão fácil, as tropas americanas se
retiraram das fronteiras brasileiras. Jango, traído pelos militares, fugiu para
o Uruguai para não ser morto. Em 15 de abril, Marechal Castelo Branco – que
sempre fez o intermédio entre o esquema do golpe e os americanos – assumiu a
presidência da república. E, pouco adiante, Castelo Branco tentaria um novo
golpe para não sair mais do poder. Porém, é substituído por Costa e Silva em
1967.
Até
hoje, algumas pessoas ligadas ao governo Jango não concordam com o fato de ele
não ter reagido ao golpe, mas compreendem a vontade do presidente em não querer
ver derramamento de sangue, pois se reagisse, sofreria intervenção dos EUA e
começaria uma verdadeira guerra civil no Brasil. Mas na tentativa de livrar o
seu povo do sangue, não conseguiu livrá-los da repressão e da prisão – para
aqueles que não concordavam com o regime militar. A ditadura militar só foi
sanada completamente em 1985, quando um novo presidente civil foi eleito:
Tancredo Neves. E, até hoje, poucos sabem quem foi Lincoln Gordon e quase
ninguém sabe a dor que ele causou a milhões de pessoas no Brasil.
Este é um trabalho universitário realizado sob orientação do professor e cientista político Edson Rildo.
TAVARES,
Flávio. O dia que durou 21 anos. Brasil:
Pequi Filmes, 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=5TlYAKTRQ_8>
TENDLER,
Sylvio. Jango. Brasil: Caliban
Filmes, 1984.
